A cultura indígena, principalmente a do Sul do Brasil, foi e é, incentivada a sua 'desconstrução', seja inicialmente pelas 'reduções jesuíticas', seja atualmente pela 'sociedade do consumo'. Nesse contexto, são de extrema importância as cerimônias tradicionas que algumas comunidades indígenas realizam.
Tive a oportunidade de acompanhar, na comunidade de Palmeirinha do Iguaçu, a cerimônia do Batismo de Ervas, agradeço a confiança da comunidade na equipe Outro Olhar, assim como o privilégio de poder participar e acompanhar toda a atividade, desde a sua preparação.
De acordo com as lideranças da comunidade, esta é a primeira das quatro cerimônias que se realizam durante o ano. São cerimônias de agradecimento, purificação e benção. Esta primeira chamada de Batismo de Ervas, acontece na primavera, tem como principal planta a erva-mate, que é colhida e sapecada pelos homens e moida e socada pelas mulheres. São dois dias de atividades e durante o segundo dia é realizado o batismo das crianças que ainda não receberam o nome guarani. A segunda cerimônia é realizada na colheita do milho, geralmente em janeiro; tem o milho e o mel como alimentos para o agradecimento à boa colheita. A terceira, das frutas, acontece quando da colheita da 'banana de mico'. E para encerrar o ciclo, realiza-se novamente a cerimônia com a erva mate. Acompanhar a cerimônia do batismo de ervas foi uma experiência ímpar, que palavras não conseguem traduzir.
É a cultura viva, a crença no Grande Espírito, o modo de ser de um povo sensível e sábio. O coração da comunidade, sua identidade.
Só tenho a agradecer ao Grande Espírito por permitir que meus olhos pudessem ser testemunhas e se abrir à beleza da vida, manifestada no modo de viver dos guaranis, assim como permitir que minha alma fosse envolvida pelos sentimentos desse povo. E mais uma vez, o agradecimento à comunidade de Palmeirinha do Iguaçu.
Por Sandra Konig - associada Outro Olhar