Somos a Associação de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento Humano - Outro Olhar, fundada em 2008, a partir da ideologia e determinação de diversos profissionais de várias áreas do conhecimento com vasta experiência em projetos ligados ao terceiro setor.

Bem Vindos ao nosso Espaço!

segunda-feira, 23 de março de 2020

Cerimônia Guarani Ei'i Mbojape: vivência espiritual

relato de uma jurua sobre a cerimônia que teve o privilégio de participar


Receber o convite para participar de uma cerimônia Guarani sempre me enche de alegria. São momentos de muita espiritualidade, singeleza e beleza. Entre 14 e 15 de março de 2020 fui convidada a participar da cerimônia Ei'i Mbojape na tekoa de Palmeirinha do Iguaçu, TI de Mangueirinha, município de Chopinzinho - PR.

A manhã começa com as Kunhã kuery (mulheres) em torno do pilão, socando o avaxi hete'i (a variedade do milho certo para a cerimônia) para a base do mbojape (bolo de milho): jovens, adultas, anciãs em animadas conversas; do pouco que consigo entender e do que me contam [as conversas são na língua Guarani, que infelizmente não domino], os assuntos são de que o 'socar no pilão' é a academia das Guarani, tem um jeito certo de se posicionar, de levantar a mão de pilão, do ritmo; isso dá o condicionamento físico das mulheres... E sempre, muitas risadas. Por outro instante, um ar mais sério, a conversa gira em torno de 'ser mulher'; que tem perigos, que é preciso ter atenção com as 'pequenas mulheres'; que as coisas já não são mais como eram nos tempos antigos...

A conversa volta a ficar animada, as anciãs pedem para as jovens também aprenderem a socar o avaxi hete'i; risadas, porque as mais jovens tem menos resistência que as mais velhas. Cobranças: os celulares tiram a vontade das jovens de aprender [risadas]. Me permitem aprender/tentar! Concordo, é uma academia de bastante impacto! [Risadas...]
O sol avança no céu, parte do avaxi hete'i já virou farinha, então um grupo de senhoras parte para o fazer os bolos. São amassados, moldados e colocados para assar na cinza no chão da Opy'i (casa de reza). O calor é forte, a fumaça faz os olhos lacrimejarem; mas as senhoras, estão lá, firmes no seu fazer! Algumas jovens aparecem para aprender... Prática, conhecimento, dedicação que passa pelas gerações: lindo de ver e sentir!

Em outra frente, os Avá kuery (homens) foram na floresta, coletaram o ei'i (mel das abelhas nativas) e agora estão do lado de fora da Opy'i enchendo seus Takua ruxu (canudos de taquara ou purungos). Para cada pessoa do sexo masculino da família um takua ruxu de mel; para cada pessoa do sexo feminino da família um mbojape.

O sol no centro do céu, tudo pronto, hora de entrar na Opy'i, cada um levando seu takua ruxu ou mbojape; logo o som da mbaraka, mbaraka miri, rave'i, angu'apu e mais tarde se juntam os takuapu enchem o espaço. As oferendas depositadas no altar, devidamente nominadas e abençoadas; aos poucos a fumaça dos petygua (cachimbo Guarani) se espalha, preenche o espaço e as palavras do Xamoi chegam às mentes e corações dos presentes. Não encontro palavras para descrever, é preciso estar, vivenciar e sentir.
Anciãos, adultos, jovens, homens, mulheres, convidados, todos tem um momento para falar. É comunhão, interação, respeito, admiração: unidade.

O coral canta os mboraei, o Xamoi fala, os participantes usam o petygua, tataxinã (fumaça) inunda o ambiente e as mentes; os pensamentos como que decolam, seguem e voltam. Corpo, alma e natureza: comunhão! Minutos, horas passam... Tataxinã se esvai... mboraei ressoam apenas na memória... Hora da pausa... Agora alguns vão, outros ficam, a cerimônia seguirá quando o sol tiver se posto no horizonte.

O sol se pôs, o som da mbarakambaraka mirirave'i, angu'apu anunciam que é hora de voltar para a Opy'i. O Xamoi já está lá com seu petygua; temos ensinamentos, reflexões, cantos, ensinamentos, reflexões... Curas... União... Comunidade... O Nhandereko está vivo, pulsante! Horas passam, tataxinã preenche o espaço e também as mentes.
Em ato de limpar o corpo, proporcionar resistência, curar dores inicia a Tarova'i; principalmente os jovens participam da dança, o Xamoi conduz, todos apoiam, acodem, cantam; de alguma forma, participam. A vibração de força e comunhão estão e são a tataxinã... Mais uma vez, me faltam palavras, é preciso estar, vivenciar e sentir...
Alguns continuam por mais algumas horas na Opy'i, outros vão para suas casas e outros ainda amanhecem na Opy'i.

Quando o sol da manhã desponta no horizonte, hora de se reunir novamente na Opy'i, a água já está quente, o chimarrão passa de mão em mão; a Opy'i vai enchendo, enchendo... O Xamoi faz a reflexão, a benção final e os Mbojape com o Ei'i são distribuídos; a refeição da manhã é o ato final dessa cerimônia de agradecimento, cura e partilha.

Ha'eve tema!
por Ara Ju (Sandra König)






segunda-feira, 16 de março de 2020

Construção Coletiva da Agroindústria do Grupo Tembi'u Porã

Em 2013, a partir da preocupação das comunidades Guarani pertencentes á Rede Solidária Popyguá, estas aceitaram o desafio de reflorestar e também formar agroflorestas para produção de frutas para consumo e possível comercialização, plantas que fornecem matéria prima para artesanato como sementes, fibras, madeiras, etc e o cultivo de plantas com função medicinal, para uso da comunidade e uma parte, para produção de óleo essencial, para poder beneficiar todas as pessoas.
Passaram-se alguns anos, as plantas cresceram, começaram a produzir e, não se conseguiu consumir tudo, houve excedente; que tampouco conseguiu ser comercializado em sua totalidade. Analisando as dificuldades enfrentadas: na safra as frutas da época não tem um valor atrativo; as aldeias são um tanto distantes dos centros consumidores, tendo a dificuldade do transporte; ciclo curto da maturação das frutas.
Diante desses obstáculos, em conversas surge a ideia do beneficiamento dessas frutas, para aumentar o tempo de consumo, poder ter em períodos além do período da colheita... Então o desafio: como? As comunidades não possuem estruturas, não possuem a 'prática' do beneficiamento das frutas... Porém possui pessoas, principalmente jovens, interessados e sedentos por oportunidades de ter trabalho, não precisar procurar a sobrevivência fora das aldeias; ter alimento saudável para suas famílias e comunidades. Nasce então, a ideia de uma agroindústria na comunidade indígena!
Visto como um grande desafio. Muitos empreendimentos semelhantes realizados em comunidades de agricultores não deram muito certo; tiveram inúmeros problemas e não conseguiram operar. Situação contraditória ao mercado crescente de alimentos artesanais, de qualidade e orgânicos/agroecológicos.
Era preciso pensar melhor! Foram realizadas visitas a outros empreendimentos exitosos, conhecidas comunidades que se transformaram quando decidiram investir em si mesmas, criar suas identidades, mesclar cultura, saber e alimento. A decisão: por que não uma oportunidade para a comunidade indígena?
Procuramos parceiros para a empreitada, encontramos! A proposta inicial era maior, mais completa, proporcionava apoio por três anos. Em tempos de crise, a proposta teve que ser reduzida para conseguir ser realizada no orçamento disponível. Mais um momento para refletir e decidir: Valeria a pena? E a resposta do grupo foi: Sim, vale a pena! Começamos e iremos seguindo. Precisamos começar.
A partir desse contexto, a Província Autônoma de Trento, na Itália, através do Consórcio Brasil-Trentino nos deu o voto de confiança e resolveu apoiar a ideia. Batizamos o projeto de TeA - Tekoa Empreendedora: Agroindústria; por entendermos que é uma sequencia do projeto Tekoa Sustentável, que implantou as agroflorestas.
O TeA se tornou parte de um projeto maior de colaboração entre Brasil e Trentino, denominado de "Brasil e Trentino: Nova Oportunidade de Co-Desenvolvimento 2019-2021; sendo realizado simultaneamente na região sul com o projeto TeA que é a instalação de uma agroindústria na aldeia de Tapixi, no município de Nova Laranjeiras; um projeto no estado de São Paulo e outro no Ceará; além da colaboração com empreendimentos do Vale de Gresta, na Itália.
Sendo grande o desafio, as ações exigem clareza nas decisões; para desenvolvermos o projeto/planta da agroindústria está formado um grupo de trabalho entre a Outro Olhar, Grupo Tembi'u Porã, Secretaria de Agricultura de Nova Laranjeiras (SA), Emater também de Nova Laranjeiras e UFFS através do NECOOP.
O segundo encontro do grupo aconteceu na sexta feira, 13 de março, nas dependências da Prefeitura Municipal, quando foram apresentadas as ideias para a agroindústria, parte estrutural; depois de visitas e estudos dos técnicos da SA e Emater.
O trabalho continua, por ora nosso agradecimento a todos que estão conosco nesse desafio! Seguimos!

Por Outro Olhar e Grupo Tembi'u Porã




Grupo Tembi'u Porã: Visita ao sítio Manduri - Interação

Na quinta feira dia 12 de março nosso grupo Tembi'u Porã visitou o sítio Manduri do agricultor Leandro Rodrigues de Lima, localizado no município de São Jorge d'Oeste.
A ideia de visitar o sítio partiu da Outro Olhar, que conheceu o agricultor durante um intercâmbio em 2017. O grupo gostou da ideia e se organizou para visitar.Apesar de não ser tão longe, algumas 'perdidas' no caminho, o que não impediu a visita, só atrasou um pouco; porém não comprometeu a visita, porque Leandro não tinha pressa, e nós aproveitamos, passamos horas conversando e conhecendo a história, as plantas, o manejo o 'jeito de viver'.
As várias espécies de bambu chamaram a atenção já na chegada, pelas diferentes formas e tamanhos. Conhecemos um pouco qual a melhor indicação de cada um, como usar, como plantar, como manejar... A vontade do grupo é utilizar/fazer o plantio de bambus para reforçar a barreira sanitária que separa a agrofloresta das lavouras.
Ver e conhecer a criação das abelhas sem ferrão foi muito importante; além de ser muito saboroso, pois pudemos experimentar o mel de diferentes espécies e perceber as diferenças dos sabores e textura. Além de prestar atenção na forma de manejo que ele faz na criação.
Pudemos ver que a agrofloresta é bastante variada, tem mandioca, milho, bananas, carambolas, abacates e outras espécies bem diferentes.
O almoço também foi bastante diferente da maneira que somos habituados. Foi um almoço vegano, com rizoto de jaca, legumes e raízes assados, suco de laranja e abacaxi; praticamente tudo produzido no sítio. Estava saboroso! Como Leandro não usa o sal como tempero, e nosso paladar está acostumado ao sal, sentimos a diferença. E ao comentar com os anciãos, estes falaram que lá, bem antigamente não se tinha esse sal comprado, então o sabor não era igual ao que se come hoje. Isso fez pensar, que algumas formas de preparar os alimentos de antigamente são feitos hoje por outras pessoas... Ciclos...
Também o manejo da agrofloresta se assemelha com a agricultura Guarani Tradicional, que não fazia monocultura, não usava agroquímicos, não arava a terra... Trocando para aprender mais e poder melhorar!


Nosso obrigado ao agricultor Leandro por nos receber!
Grupo Tembi'u Porã

sábado, 7 de março de 2020

Voluntários e Interação Cultural na Semana da Mulher

Os voluntários do Projeto Change Making Tour, João Ricardo Miri Fernandes e Leandro Tupã Rocha, antes de sua temporada na Itália, participaram nos dias 05 e 06 de março da atividade de Interação Cultural na Escola Municipal Alcindo de França Pacheco, em Guarapuava da Exposição Kunhã regua Mbya para estudantes do 4º e 5º anos.
A exposição que apresenta elementos da cultura indígena Guarani a partir do ponto de vista de quatro mulheres Guarani, além de levar um pouco da cultura indígena para os estudantes, também reforçou a valorização da mulher na sociedade, seja ela indígena ou 'juruá' (que é, para os Guarani, todos os não indígenas).
Com a participação dos jovens voluntários Guarani, foi possível apresentar e realizar brincadeiras tradicionais com as crianças que visitaram a exposição.
A brincadeira de 'Arrancar Mandioca' reforça a noção de que é preciso cultivar o alimento, além de trabalhar a cooperação e a 'resistência' entre as crianças; a brincadeira 'Xondaro', uma dança de preparação de Xondaro e Xondaria (jovens homens e mulheres) das aldeias; além de proporcionar a prática de 'dança Guarani' faz brotar a energia e alegria comum à jovens de todas as culturas.
Foi muito lindo de ver, de participar!
Gratidão para a Escola pelo convite e para os Voluntários pela alegre participação.