“Cada
sítio é um filão. Basta andar por aí. Não ter pressa, estar sentado numa casa
de chá a observar quem passa, pôr-se a um canto do mercado, ir cortar o cabelo,
e depois seguir o fio da meada que pode começar numa palavra, num encontro, no
amigo do amigo de uma pessoa com quem acabámos de nos encontrar, e o lugar mais
insípido, mais insignificante do planeta, transforma-se num espelho do mundo,
numa janela aberta para a vida, num teatro da humanidade diante do qual
poderíamos deter-nos sem necessidade de ir a mais sítio nenhum. O filão está
exactamente onde nós estamos. Basta cavar.” T. Terzani
Quando cheguei em Guarapuava achava que seis meses era um bom
tempo para conhecer o Brasil e ter uma ideia completa do que é o trabalho
efetivo de Outro Olhar. Agora sinto que fui muito ingênua: porque o país é enorme
e visitei só uma parte microscópica e porque o trabalho da associação varia
bastante, cada vez é diferente. Por um lado queria que este SVE durasse por
mais tempo, para ter o tempo suficiente para ir ainda mais na profundidade das
coisas e das pessoas. Mas sei que, mesmo ficando um tempo mais, sempre ia
pensar que não seria bastante. A cultura brasileira é tão vasta e tão vária que
já me sinto com sorte por ter conhecido um pouco da cultura guarani e por ter
participado, por exemplo, às noites nas casas de rezas e às refeições todos
juntos nas aldeias... Não tenho a certeza que vou conseguir contar tudo para os
meus amigos e a minha família lá na Itália: têm coisas que são silenciosas e
ficam simplesmente debaixo da pele. A magia daqueles lugares insinua-se dentro e
é esplendidamente inenarrável. E para os amigos das aldeias: são lindos demais!
Inútil dizer que vou
sentir saudade de passar no meio do mato para ir no escritório onde cada dia é
uma surpresa, vou sentir falta dos colegas com os quais compartilhamos momentos
de stress e de risadas, e sim, vou sentir falta de vocês também, malditos
borrachudos... mas só um pouquinho :). Adorei sentir-me parte de uma equipe,
exprimir ideias, fazer propostas e realizar as diferentes atividades que tinha
na minha cabecinha de vento. Obrigada por terem me ensinado a esperar tentando
ficar sem ansiedade, a fazer o café brasileiro fechando a garrafa (mas sabem
que não vou mudar a minha posição sobre qual é o mais gostoso!), a escutar
melhor e a resistir na luta apesar dos obstáculos e das decepções que nos
esperam no caminho.
Com certeza a gente teve bastante dificuldades de adaptação à
nova realidade, ao clima bem inesperado, aos imprevistos e às exposições não de
arte mas de bois e cavalos. A coisa mais linda foi superar tudo isso e pensar que
vou voltar para casa com uma mochila do recheio diferente. Aqui deixei muitos
objetos e vestidos da Itália e agora lá dentro têm bastante coisas brasileiras:
chimarrão, fotos de amigas e amigos, brincos e colares guarani, vários livros.
Foi uma troca mesmo, claramente não só material, mas sobretudo humana e social.
Amei tudo.
Espero de ver vocês de novo e na espera conservarei dentro de
mim lembranças verdes da natureza, vermelhas da terra e ao sabor de manga e
água de coco. Molhei os pés no rio Jordão daí vou ter que voltar, só que ainda
não sei quando. Por enquanto, enviem-me um pão de queijo de vez em quando e um
grande “Meu Deus” para todos!
Abração e até logo...
Gloria Bayma - Voluntária SVE
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