Se olharmos a 'linha do tempo', vamos encontrar a primeira cerimônia da Mba'emo'a Nhemongarai (Consagração das Sementes e Frutas) em 2021. Não a primeira cerimônia efetivamente, a primeira cerimônia desde a retomada da prática na aldeia de Palmeirinha do Iguaçu.
Este ano foi a 5ª edição. E é assim: Primavera, quando as plantas brotam depois dos meses de inverno, o sol já esquenta a terra, é tempo de preparar o roçado e lançar as sementes no solo. A vida se renova, é então que começa o ano novo Guarani, a transformação do Ara Yma [tempo velho] em Ara Pyau [tempo novo] que eu traduzo como Ano Novo.
É o momento de reunir as sementes, ramos, mudas, estaquias e tudo o que for plantada para receber as bênçãos das divindades para que crescem saudáveis, produzam bons frutos e permitam viver com abundância mais um período da vida, mais um ciclo de luas, mais um ano.
Na aldeia de Palmeirinha do Iguaçu quem organiza o evento e mantém viva a prática é o grupo Aty Mirim, composto na sua maioria por mulheres que fazem/mantém a agricultura Guarani viva, junto com suas famílias. É mais uma fortaleza desse povo, que mantém suas práticas, suas sementes, sua medicina, sua sabedoria; se adaptando as necessidades de território [muitas vezes é resistência], ao clima e aos olhares de incredulidade e desconfiança da sociedade do entorno, com suas crenças na produção em escala, uso/aproveitamento da terra, etc. Aqui a relação não é de 'usar/aproveitar' é de cuidar e conviver.
Ara Pyau Porã! Bom período Novo!