Na tarde
do dia 25 de setembro mulheres de territórios diferentes, de culturas
diferentes se reuniram, presencial e online para uma 'Roda de Conversa'.
Mulheres
organizadas em coletivos e também mulheres sem um coletivo específico que
dedicam sua vida a trabalhar as causas sociais, a saber: Movimento Jera Rete,
Grupo Aty Miri, Coletivo Feminista Cláudia da Silva, Movimento das Mulheres
Camponesas e Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia- CAPA Núcleo Verê/FLD.
Flores Guardiãssementes pequenassementes que somossemente não é só feijão e milhosemente é da flor, da alface é de gentesemente é renda e é comida…semente é uma missão que as mulheresfazem de forma aguerridaimagina o que seria da vidase não fossem as floresde várias coresde muitos saboresimagina o que seria da vidase não fossem as hortas e os quintaistrazendo comida de verdadepro campo e pra cidadeimagina o que seria da vidase não fossem as matase os povos que nelas viveme toda sabedoria que eles transmitemhá quem, a vida cultivahá quem ela cuidehá quem veja no vivera motivação para cada diaa vida saída da terrado ventrea vida saída de tantas mulherese de tantas sementesMulheres que criam vidacom seus corpos, suas mentes, seus espíritosque sopram sonhos e cançõesque reconhecem o canto dos pássarose o mudar das estaçõesMulheres guardiãssabedoras de como mantercomo melhorarcomo semearseus alimentosMulheres guardiãsque conhecem espécies de floresde ervas, de animais e de tudo que vai no roçadoMulheres guardiãsque cultivam na mata, sua comidasuas medicinas, sua ancestralidade
Foto: Ara Ju |
Floriana
Jaxuka diz que se emocionou em perceber que os medos que ela sente, são também
os medos de outras mulheres; que sentiu que momentos assim fazem bem; que
precisam ter outros. Como é bom ser compreendida e acolhida.
Rafaela, a
princípio, chegou tímida, cheia de receios sobre o que compartilhar, timidez
essa que logo se transformou em esperança, concretizada em cada palavra e em
cada identificação que rolava com as mulheres indígenas e camponesas. Poder se
reunir e falar entre mulheres, no meio das árvores, entre crianças brincando,
entre os animais sobre sentimentos que não somos permitidas falar no dia a dia
por conta das correrias, das atividades, das obrigações é uma forma de cuidado
mútuo. Em cada palavra compartilhada era nítido o olhar da outra que por algum
momento também se sentiu assim. Somos diversas e isso é maravilhoso!!! Que
possamos celebrar a nossa diversidade, as nossas diferenças, que possamos viver
nesse mundo possível onde a vida é mais importante que qualquer coisa!
Para mim, Eliane,
foi um dia super diferente do "normal" um dia especial. A troca entre
mulheres tão "diferentes" mostra que as diferenças quase não existem.
Oque mais me marcou foi a questão dos medos e o que eles representam. Um medo
que parece tão simples, como o medo do escuro, na verdade é muito mais que
isso, na verdade é o maior medo, porque o escuro representa muito, representa
tudo...
Foi um dia que guardarei em minhas memórias. Estar entre mulheres, compartilhar sentimentos nos fortalece muito.
Foto: Eliane Gralak |
Talita diz
que foi uma tarde inspiradora e cheia de emoções, que nos deixou com um
gostinho de “quero mais”. Onde nossas diferenças e nossas semelhanças puderam
se misturaram em um “compartilhar”. Ao final, combinamos um novo encontro, o
qual me deixa empolgada por saber que podemos continuar nossas trocas e ainda
podendo somar mais mulheres na roda.
Para
Lunamar, camponesa integrante do MMC e assessora técnica do CAPA-Verê, esse
momento foi de uma simplicidade e força que só se vê quando mulheres se unem,
quando somos capazes de pôr nossa escuta e nossa fala às outras, com respeito
de saber que cada história, cada vivência, trará suas dimensões da vida, cada
mulher como uma árvore de raízes profundas, se junta com suas semelhantes na
busca de manter se viva e triunfante numa sociedade que se esqueceu como é ser
natureza. Mulheres de diferentes realidades, mas de sonhos comuns, de medos em
comum e de risadas compartilhadas, mulheres que em uma tarde de sábado se
juntam para saber que nunca estamos sozinhas quando temos umas às outras.
Para mim, Sandra
Marli da Rocha Rodrigues do Movimento de Mulheres Camponesas – MMC, foi um
momento de partilha, diálogo, escuta, solidariedade, sororidade e
fortalecimento. Vivemos tempos muito difíceis, onde a diversidade de vida está
ainda mais ameaçada, e para fazer o enfrentamento e resistência as políticas de
morte que o sistema capitalista, patriarcal e racista nos impõe, precisamos nos
fortalecer coletivamente, estreitando os laços entre as mulheres do campo, das
águas, das florestas e das cidades. E, nesse sentido, a roda de conversa foi
uma sementeira com terra fértil onde semeamos as sementes dessa articulação
entre as mulheres de vários territórios desse chão paranaense!
Que
possamos construir mais espaços para sentir/pensar/construir o esperançar por
dias melhores!
Sigamos de
mãos dadas fortalecendo a luta em defesa da vida, todos os dias.
E para o encerramento, Sandra Marli
apresentou um texto, adaptado por ela de um grupo chamado "magias de bruxa”:
LIBERTO-ME, LIBERTE-SE, LIBERTEMO-NOS!
Eu
liberto meus pais do sentimento de que já falharam comigo.
Eu
liberto meus filhos e minha filhas da necessidade de trazerem orgulho para mim;
que possam escrever seus próprios caminhos de acordo com seus corações, que
sussurram o tempo todo em seus ouvidos.
Eu
liberto meu parceiro/parceira da
obrigação de me completar. Sou completa, não me falta nada, aprendo com todos
os seres o tempo todo. Estou em permanente construção.
Agradeço
aos meus avós e antepassados que se reuniram para que hoje eu respire a vida.
Libero-os
das falhas do passado e dos desejos que não cumpriram, conscientes de que
fizeram o melhor que puderam para resolver suas situações dentro da consciência
que tinham naquele momento histórico. Eu os honro, os amo e os reconheço
inocentes.
Eu
me desnudo diante de seus olhos, por isso eles sabem que eu não escondo nem
devo nada além de ser fiel a mim mesmo e à minha própria existência, que
caminhando com a sabedoria do coração, estou ciente de que cumpro o meu projeto
de vida, livre de lealdades familiares invisíveis e visíveis que possam
perturbar minha Paz e Felicidade, que são minhas responsabilidades.
Eu
renuncio ao papel de salvadora, de ser aquela que une ou cumpre as expectativas
dos outros.
Aprendendo
através do AMOR e da minha experiência e existência no mundo, eu abençoo minha
essência, minha maneira de expressar, mesmo que alguém possa não me entender.
Eu
entendo a mim mesma, porque só eu vivi e experimentei minha história; porque me
conheço, sei quem sou, o que eu sinto, o que eu faço e por que faço.
Me
respeito e me aprovo. Respeitando a minha individualidade, me fortaleço na
coletividade.
Eu
honro a Divindade, a espiritualidade em mim e em você, eu honro as diversas
expressões de divindades e religiosidades das mulheres do campo, das águas, das
florestas, das periferias, do MMC… Somos livres! Sejamos livres!
Texto feito à muitas mãos: Eliane Gralak, Floriana Jaxuka Rete Poty Martines, Lunamar Cristina, Rafaela Contessotto, Sandra Marli da Rocha Rodrigues, Sandra König, Talita Slota Kutz
Foto: Eliane Gralak |