“Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Viveu, lutou, tombou, morreu, de novo ressurgiu
Ressurgiu
Pavão de tantas cores, carnaval do sonho meu
Renasceu
Quilombo, agora, sim, você e eu”
‘Quilombo’, de Gilberto Gil
“Meu Deus, mas quanto
está demorando este ônibus?” – pensei- “Tinha que chegar às 7.40 e já são 9
horas da manhã, podia ter dormido uma hora mais... A prof. Fernanda não atende
ao telefone... será que se esqueceram de mim?”. Assim começou a minha aventura:
depois de alguns minutos o ônibus com a Turma de Geografia de Irati chegou, me
carregou e partiu em direção de um quilombo do Paraná, chamado ‘Paiol de
Telha’.
Descobri a existência
dos quilombos há um mês, então fiquei com muita vontade de visitar uma
comunidade. Quando soube que esta turma ia pra la, não queria perder a ocasião
de viajar com eles: assim, coloquei de lado o meu cansaço da semana de trabalho
e decidi de ir.
Chegamos num lugar
imerso na natureza, onde tinham alguns moradores que acolheram-nos com muito
carinho e calor. Daí encaminhamo-nos até o espaço comum do quilombo aonde
esperavam-nos com cantos, um lanchinho e uma conversa bem interessante sobre
como é a vida de todos os dias e sobre a luta pela terra.
Fiquei muito surpreendida ao escutar as dificuldades que estas pessoas tiveram para ter a permissão legal de morar no lugar que já pertencia a eles há muitos anos. Paradoxal, né? Felizmente, a luta deu certo e agora espero que os outros quilombos vão ter a esperança de conseguir o objetivo, com na mente o exemplo dos irmãos deles.
Pelo que diz respeito à cultura e às tradições, no quilombo coexistem cultura “negra” e cultura “branca”: alguns fazem rituais religiosos católicos e outros fazem rituais do candomblé (religião africana trazida para o Brasil no período em que os negros desembarcaram para serem escravos). Os orixás, para o candomblé, são os deuses supremos. Possuem personalidade e habilidades distintas, bem como preferências ritualísticas.
À tarde, andamos até algumas lindas cachoeiras e antes de entrar, alguns meninos e meninas do quilombo fizeram um ritual, com batuque e cantos, para pedir licença à água para nós entrar. Achei isso muito interessante, porque muitas vezes consideramos óbvios os recursos da natureza e acabamos por abusar deles como se fossem de nossa propriedade. Na verdade é o contrário: somos nós que pertencemos à Terra e a gente não pode esquecer disso. Depois de vários mergulhos e esguichos de água, voltamos onde estávamos hospedados para jantar e descansar.Mas a noite ainda não tinha acabado: de fato, depois da comida a gente foi num lual bem bacana, com fogo, tochas, incensos, batuque... Dançamos e cantamos juntos, para comemorar os deuses da natureza que acompanham a vida e a luta do Quilombola de todos os dias.
Em suma, a experiência foi muito legal e é parte integrante do conhecimento sobre as populações do Brasil que, infelizmente, têm “invisibilidade social”. Por outro lado, fiquei bem feliz em saber que o caminho em direção do reconhecimento formal vai para frente, apesar de todas as dificuldades e do tempo da burocracia. Espero que, além disso, serão também preservados os modos de vida, os conhecimentos tradicionais e a cultura deste povo. O Brasil é muito rico culturalmente, e não pode perder esta variedade que o caracteriza e que o faz tanto fascinante.
Obrigada Paiol de Telha por esta oportunidade, adorei, e vou levar para a Itália tudo o que aprendi. Espero que, com a informação e a minha experiência direta, vou aproximar a minha família e os meus amigos a esta realidade de luta pelos direitos e cultura que, ainda sobrevive e resiste à opressão da sociedade.
Gloria Bayma – Voluntária SVE
Nenhum comentário:
Postar um comentário