Eu gosto
de escrever. Mais não é escrever com fins literários, o meu é
mais um anotar para lutar contra a minha má memória. Estou com medo
de esquecer, então o meu combate ao esquecimento é ter sempre
comigo uma caneta e pelo menos um pedaço de papel.
Quando
estou de viagem tudo é mais organizado e com uma caneta junto
levo uma agenda. Aqui no Brasil tenho duas agendas: uma, bem
pequeninha, para ela caber na bolsa ou no bolso, que sempre levo
comigo e uma maior que é aquela dos pensamentos da noite, antes de
adormecer.
Muitas
vezes nem as palavras escritas nas agendas têm verdadeiro sentido,
são mais descrições de imagens e momentos que assim ficam lá
congeladas sobre o papel, situações, nomes, números e lembranças
diferentes, flores secas, santinhos, publicidades e coisas, coisas e
coisas. Alguém poderia afirmar que gosto de acumular: infelizmente
sim, sofro desta doença moderna, acumúlo coisas sem um valor
aparente para eu não esquecer.
Antecipei
esta premissa porque foi mesmo uma das muitas frases lá numa das
minhas agendas que me deu vontade de começar escrever estas
palavras.
Era o dia
11 de Outubro de 2012, dia da visita na Aldeia Rio d’Areia, no
Município de Inácio Martins - PR (assim aparece escrito lá na
página da agenda). Um lugar lindo demais, um refúgio mergulhado em
milhões de nuances de verdes diferentes, que naquele dia, aos meus
olhos, pareciam como pintadas por causa da luz do sol estar atrás
das nuvens, e do vento, bastante frio, mexendo o mato sem uma regra.
Lá na
minha página de agenda encontro escrito o seguinte, depois da data e
da localização:
URUKURE’A - Coruja.
PIRA -Peixe.
Comunicação
como necessidade.
Participar
bem direitinho não é só querer, é também pensar.”
Como já
escrevi, frequentemente, as palavras que aparecem na agenda não têm
sentido aparente para ninguém que não seja eu. Claro que com
algumas informações relativas à situação e ao contexto tudo
pode-se decodificar e esclarecer, por isso, explicarei, que é para
mim também uma boa maneira para reorganizar a experiência.
As
primeiras duas palavras urukure’a e pira, com as
traduções em português, podem dar a idéia de contextualização
no espaço; a gente teve um encontro com o cacique da Aldeia Rio
d’Areia e outros moradores para apresentar um projeto recém
aprovado. O encontro foi numa sala da escola da Aldeia e tinha lá
alguns desenhos pendurados na parede com palavras em Guarani com
tradução em Português. Dessas palavras as duas anotadas chamaram a
minha atenção, coruja porque é um pássaro do qual gosto muito e
peixe porque achei a palavra pira muito linda e simples, mais
do que peixe.
A frase
relativa à comunicação ficou na agenda porque a Silmara,
apresentando as atividades do projeto, falou da importância da
comunicação, melhor ser partilhada, como meio para divulgar os
êxitos e para discutir as eventuais dificuldades. Acho também
importante, aliás, necessário, saber comunicar, comunicar para
fazer conhecer e a fala da Silmara deu-me inspiração para algumas
atividades a ser desenvolvidas em oficinas de formação no futuro.
Na
terceira frase tem as palavras do cacique da Aldeia comentando a
proposta de participação no projeto. Achei o conceito que ele
exprimiu uma filosofia a compartilhar e lembrar, a ver com as
responsabilidades de cada um de se envolver nas situações da vida
porque é bem que para tomar decisões exista uma verdadeira vontade,
que é preciso para levar até ao fim o que se começa. Compartilho a
visão do cacique, às vezes nunca encontramos as palavras certas
para exprimir um conceito até quando outras pessoas, que tem uma
visão semelhante, as comunicam, numa maneira tão simples e concreta
que sempre fico achando: porque nunca consegui falar do mesmo
jeito?!?
Obrigada
ao cacique porque é sempre um bom dia pra aprender e para descobrir
pensamentos que talvez já estejam na cabeça (sem repararmos)!
Por
Simona Barranca
Voluntaria
SVE I - Joint
Nenhum comentário:
Postar um comentário